A genética é uma das causas, mas o ambiente começa a sobrepôr-se. Estamos a exigir demasiado para a visão de perto e negligenciamos o tempo passado no exterior. Se o seu filho é míope tire-o de casa e promova a exposição à luz solar de, pelo menos, 45 minutos por dia.
Os primeiros avisos vieram da Ásia e hoje, em alguns países asiáticos, 90% dos jovens até aos 20 anos de idade já são míopes. Os estudos indicam ainda que, entre os 25 e os 29 anos, 40% dos americanos e 42,2% dos europeus têm miopia. E, note-se, em África, a miopia é quase residual…
Números que refletem a realidade antes de 2019, porque com a COVID-19 muito pode ter mudado, não pelo vírus em si, mas pelos confinamentos e pelos recados de “fique em casa”. As reuniões online, as aulas online e o tempo passado a olhar para os gadgets poderão ter agravado as previsões. Para 2050 previa-se que metade da população mundial teria miopia. Nestes dois últimos anos poderemos ter saltado etapas.
Um olho míope é sempre mais alongado e esse aumento é proporcional ao erro refrativo, ou seja, à quantidade de dioptrias. Contudo, quanto maior é o olho mais a retina se “estica”, ficando mais fina. É esta a razão que leva a Organização Mundial de Saúde, as academias de pediatria e as sociedades de oftalmologia a classificar o problema da miopia como um desafio mundial, acrescido do facto de estar a aumentar globalmente e a um ritmo alarmante. O problema não se resume a ter de usar óculos ou lentes de contato, é mais vasto, está em crescendo e a registar um aumento desproporcional de miopias elevadas e muito elevadas. Destes, 10% correm o risco de desenvolver outros problemas associados à miopia, como catarata, glaucoma e patologias várias na retina.
E o que se pode fazer? Sair de casa e apanhar sol, logo desde a primeira infância. Pelo menos durante 45 minutos e, claro, nas horas em que o sol não é prejudicial, ou seja até às 11horas e depois das 16horas.
Fazer os trabalhos de casa pode ser importante, tal como ler ou estudar para o teste e exame que vem aí, mas mais importante ainda será o combate a este problema de saúde pública que já foi anunciado e que se instalou.
Se é certo que a presença de miopia resulta de fatores genéticos e, quando ambos os pais são míopes, o risco de um filho nascer com este erro refrativo é 3 vezes maior, não é menos verdade que os estilos de vida e os fatores ambientais explicam este aumento significativo de novos casos. Hoje, as crianças já não passam o dia a brincar na rua, muito pelo contrário, e desde muito cedo são incentivas a dominarem o funcionamento dos variados gadgets que, aliás, acabam por ser atrativos. Acrescente-se que o bom desempenho escolar é também uma exigência que se impõe muito cedo e que obriga a muitas horas de estudo. Ou seja, passou-se a exigir demais dos olhos, em especial da visão para perto e negligenciamos tudo o resto. E o tempo passado ao ar livre e em contato com a iluminação natural (o sol) tem um efeito protetor para a miopia e obriga a que o olho faça tipos de focagem diferentes, para longe e perto.
Limitar o tempo de exposição aos equipamentos eletrónicos, computador, tablets, smartphones, playstation… e promover a saída à rua, são as únicas formas de contrariar a progressão da miopia, evitando ou reduzindo substancialmente o tempo com atividades que ficam a uma distância de 25 centímetros do nariz. Foi isto que todos nós mudámos em 20/30 anos e que está a alterar as exigências dos nossos olhos. E se não podemos evitar a genética, devemos (pelo menos) contrariar.
Sugere-se ainda que, nos casos em que a criança já tem miopia diagnosticada e corrigida, sempre que estiver a ler um livro ou a estudar, ou seja, quando usa apenas a visão com focagem para perto, tire os óculos de ver ao longe. Poderá parecer insignificante, mas estará por certo a habituar o olho para diferentes tipos de focagem e se vê bem ao perto deve fazer uso disso mesmo, usando apenas a correção (óculos) para ver ao longe.
Este texto resume a participação do médico oftalmologista, Eduardo Silva, na iniciativa “Conversar é o melhor remédio”, que se realiza mensalmente no Exploratório Centro de Ciência Viva de Coimbra.
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